Você provavelmente já escutou que, de sexo frágil a mulher nada tem. E que a mulher é muito mais tolerante à dor do que o homem. Cenas clássicas já nos mostram isso: A mulher dando a luz, num parto normal ou cesariano, enquanto o marido ao lado, que deveria registrar e acompanhar todos os detalhes do momento, desmaia.
Memes brincam com a situação e afirmam que “só mesmo a mulher para aguentar a dor do parto”. Ou a TPM, a cólica… Existem ainda aquelas brincadeiras afirmando que o homem mal resiste a uma gripe enquanto a mulher, mesmo doente, continua os afazeres.
Será mesmo que as mulheres são mais tolerantes a dor? Mito ou verdade?
Mito.
Estudos mostram que homens e mulheres lidam com a dor de maneiras diferentes, mas isso não significa que o sexo feminino é sempre o mais tolerante.
Cada um de nós possui uma experiência de dor bem pessoal, chamada de limiar de dor. Nunca sabemos exatamente como é a dor do outro.
A dor acontece no corpo de duas formas:
Percepção da dor: Terminações nervosas detectam e levam a informação à medula e ao cérebro. No cérebro, a informação é localizada e interpretada como dor.
Inibição da dor: Para combater a dor, há a liberação de substâncias chamadas endorfinas (semelhantes à morfina) que inibem essa informação.
Porém, contrariando as brincadeiras, na realidade são os homens que suportam melhor a dor.
O homem é mais resistente. As mulheres sentem dor por mais tempo, com mais frequência e maior intensidade. Mas, por uma questão cultural, reclamam menos e sofrem caladas.
A crença de que mulheres são mais resistentes provavelmente nasceu porque muitas passam por gestação e parto, amamentam e ainda se acostumaram com as cólicas menstruais todo mês.
Já os homens, dizem, são mais chorões e se queixam mais das dores.
Estudos que analisam a tolerância entre homens e mulheres indicam que estas são mais sensíveis à dor. Além disso, o sexo feminino está mais sujeito a sofrer com condições que provocam dores crônicas. Portanto, acabam reportando o mal estar mais frequentemente do que o masculino – o que não significa que são necessariamente menos tolerantes.
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E por que as mulheres sentem mais dor?
A dor funciona como uma resposta do corpo a alguma agressão e muitos fatores influenciam nesse reflexo. Um deles é a produção hormonal. O estrogênio, hormônio presente em maior quantidade no organismo feminino, é o que está mais ligado à percepção de dor.
Vale dizer que, apesar de as mulheres sofrerem mais, elas costumam enfrentam melhor as situações de dor e estresse. Criam mecanismos de enfretamento mais eficientes que o homem.
Mas existem ainda os genes. E estes podem estar presentes em homens ou mulheres.
Um estudo divulgado em 2014 mostrou que é possível que a tolerância à dor, que varia conforme os indivíduos, pode estar conectada à existência de certos genes. Os dados foram divulgados pela Academia Americana de Neurologia.
Os cientistas avaliaram mais de 2,7 mil pessoas diagnosticadas com dor crônica. Eles tomavam opiáceo (um tipo de analgésico) e relataram sua percepção á dor em uma escala de zero a 10. Quem identificou sua dor como zero foi descartado do estudo. As outras classificações foram: de 1 a 3, pouca percepção à dor; de 4 a 6, percepção moderada; 7 a 10 alta percepção à dor.
Apenas 9% dos participantes tinham baixa percepção, enquanto 46% tinham moderada e 45%, alta.
O gene DRD1 estava presente em nível 33% maior no grupo de baixa percepção. Entre os de percepção moderada, os genes COMT e OPRK apareciam com uma frequência entre 19 e 25% maior. Já os com alta percepção apresentavam o gene DRD2 em um nível 25% maior.
Achar os genes que atuam nessa percepção pode ajudar a encontrar terapias e auxiliar médicos a entenderem melhor os pacientes.
Um estudo realizado pelo John Radcliffe Hospital, da Universidade de Oxford (Reino Unido), mostra que, até a puberdade, quando os jovens ainda não têm a produção total do hormônio sexual, a dor é percebida da mesma maneira pelos dois gêneros. A partir dessa fase, a mulher passar a sentir mais a dor. Ainda assim, cada indivíduo, independentemente do sexo, tem uma maneira de agir diferente diante de uma lesão ou machucado. É o limiar da dor.